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04/02/2008

Matéria na VEJA sobre o Nada além da Verdade




A ex-apresentadora infantil e atual cantora evangélica Mara Maravilha condena a mentira com veemência. "É coisa de satanás", afirma. Duas semanas atrás, ela própria foi castigada por incorrer nesse pecado. Mara foi a primeira "cobaia" do Nada Além da Verdade, novo programa de Silvio Santos em que artistas cadentes são submetidos ao teste do polígrafo – um detector de mentiras como aqueles celebrizados nas investigações da polícia americana. A cada edição da gincana exibida nas tardes de domingo do SBT, um participante tem de responder "sim" ou "não" a 21 questões sobre sua vida. Depois da resposta, faz-se clima de suspense – e eis que surge num telão o veredicto se ela foi "verdadeira" ou "falsa". Quem chegar ao final incólume tem direito a uma bolada de 100.000 reais. Não foi o caso de Mara. Ela passou por perguntas como: "Antes de se converter, você achava os evangélicos cafonas?" (o que admitiu que sim). Mas derrapou ao responder se o dinheiro que ganhou quando criança foi motivo de briga dos pais. Mara disse que não – e mentiu, segundo o polígrafo. Nada Além da Verdade não é o único programa que tem um detector de mentiras como estrela. A Globo também se vale de um deles nas sabatinas com os participantes do Big Brother. Na semana passada, ao ser questionada se não estava escondendo dos colegas um detalhe importante de sua intimidade, a professora Thati desconversou e disse que isso não a deixava angustiada. "Mentira", acusou a engenhoca.
A TV não vai além do pueril ao explorar esses equipamentos. Mas não deixa de tocar num ponto nevrálgico da "humana condição". A mentira é um tema que divide os filósofos desde sempre. Enquanto aos olhos do grego Platão mentir poderia ser uma virtude, para o alemão Immanuel Kant até a lorota mais inocente é abominável (veja o quadro). Como demonstra a psicologia evolucionista, o fato é que o embuste e a
omissão são estratégias naturais de sobrevivência, presentes não apenas no homem. "Os animais também mentem", observou a VEJA o primatologista holandês Frans de Waal. "Os chimpanzés se fingem de amigos de um oponente só para ter a chance de golpeá-lo de perto." É claro que existem mil gradações mais sutis de empulhação. As pessoas mentem para proteger alguém ou para evitar uma bronca no trabalho. "A mentira pode ser uma forma de expressão sofisticada", diz o neurologista Benito Damasceno, da Universidade Estadual de Campinas. Que não se espere tanto, obviamente, dos participantes do Nada Além da Verdade e do Big Brother.
A atração do SBT é um formato importado. Em outros países, o programa tem participantes anônimos – e pega pesado. Nos Estados Unidos, onde estreou recentemente, ele expõe de forma crua a vida alheia. Na Colômbia, foi tirado do ar depois que uma participante confessou que tinha contratado um assassino para matar o marido. Por aqui, virou uma gincana amena. No rol de perguntas há bobagens como: "você lava as mãos depois de ir ao banheiro?". Mas a máquina da verdade provoca lá suas saias-justas. Numa edição ainda não exibida, o apresentador Sérgio Mallandro é ironizado pela namorada depois de responder "sim" sobre se já usou Viagra. Em outro programa, a cantora Gretchen (aquela do "conga, conga") nega que teve um caso com certo ator pornô – e é derrubada pelo polígrafo.
Há dois tipos de detector de mentiras na TV. O do Big Brother capta variações na voz. Boa parte dos especialistas o acha menos confiável do que o polígrafo nos moldes do Nada Além da Verdade. "Depois de mais de 6.000 estudos, provou-se que o polígrafo é o único capaz de distinguir entre um quadro de stress normal e as alterações fisiológicas exibidas por um mentiroso", disse a VEJA o americano Stan B. Walters, autor de um livro sobre o tema recém-lançado no Brasil, A Verdade sobre a Mentira (Record). Inventado nos anos 20 e aperfeiçoado ao longo das décadas, o polígrafo registra variáveis como os batimentos cardíacos, os movimentos dos olhos e a condutividade elétrica da pele. Com base nas mudanças nesses padrões, identificam-se os momentos em que o investigado teria mentido. Como a eficácia não é de 100%, seus resultados não são aceitos nos tribunais do Brasil e dos Estados Unidos.
O polígrafo do Nada Além da Verdade é fornecido ao SBT por uma firma baiana especializada em "biofeedback" (seja lá o que for isso). Para passarem pelo teste, os participantes enfrentam uma maratona. Sob acompanhamento de um psicólogo, eles respondem a 100 perguntas isolados num estúdio, com eletrodos pregados no corpo. No palco, são confrontados novamente com 21 dessas questões, sem ser informados previamente das conclusões do detector de mentiras. Até agora, só dois dos onze participantes não foram "pegos" pela máquina. Sabe-se, por outro lado, que várias pessoas desistiram da empreitada no meio do caminho. "O polígrafo assusta", diz o diretor Marcos Ramos. Deve ser verdade.

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